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segunda-feira, março 19, 2007

O Trovador-Non son tui figlio

A segunda parte do primeiro quadro do segundo acto, aqui cantada igualmente por Zajick, tem desta vez no papel de Manrico, Roberto Alagna, numa gravação de 2003.

O diálogo entre Azucena e Manrico mantém-se no mesmo tom. Perante a insólita confissão da cigana. Manrico pergunta-lhe "Non son tuo figlio ?", que ela assegura que sim, embora duma forma algo confusa, fingindo que se tinha explicado mal no seu delírio e que ele é o seu filho.

Pergunta-lhe " A me se vivi ancora", " se ainda vives, não mo deves ? recordando-lhe que no campo de batalha quando "descobri que a tua vida se te escapava o meu maternal afecto não a deteve no teu seio ? E quanto cuidados não dediquei para te curar de tantas feridas ?"

Só uma mãe teria corrido esse risco por um filho.

Belo é o dueto seguinte iniciado pela frase de Manrico " Mal reggendo all aspro assalto"

Manrico tranquiliza-se, mas lembra-se que uma força superior pareceu impedi-lo de matar o conde de Luna quando no duelo que teve com ele, já o tinha derrotado a seu pés.

A cigana lamenta amargamente e recomenda ao filho que se voltar a enfrentar o rival, lhe crave a arma profundamente.

O dueto é interrompido com a chegada dum mensageiro com uma boa notícia, o príncipe tomara Castela e nomeara Manrico seu defensor, e uma má, Leonora julgando-o morto quando do duelo nos jardins do palácio, recolhera-se a um convento.

Manrico diz ao mensageiro para lhe trazer um cavalo, porque irá impedir essa decisão. Azucena tenta impedi-lo, recordando-lhe que ainda está convalescente, podendo reabrir as feridas.

"Não não posso consenti-lo
o teu sangue é o meu sangue
Cada gota que dele derramas
é espremida do meu coração"

Mas Manrico está determinado

"Um instante pode retirar-me
a minha amada a minha esperança
Não há nada que possa deter-me
nem na Terra nem no céu!"

" Ah mãe deixa-me a passagem livre
pobre de ti se eu aqui ficasse
Verias morrer de dor
o teu filho a teus pés"

Manrico afasta-se tornando inúteis os esforços de Azucena para o deter





sexta-feira, março 16, 2007

O Trovador-Condotta el era in ceppi

Uma vez a sós Manrico interroga Azucena, aquela que pensa ser a sua mãe, sobre o significado da sua sinistra canção.Inicia-se a ária "Condotta ell era in ceppi" onde Azucena conta

"que levaram a sua mãe, até ao seu horrível destino com o filho nos braços, tentei aproximar-me dela, mas em vão tentei e em vão tentou a infeliz mandar parar e benzer-me, pois entre blasfémias obscenas, picando-a com as espadas, empurraram-na para a fogueira os malvados esbirros. Então com palavras entrecotadas Vinga-me exclamou. Estas palavras deixaram um eco eterno neste coração.

Manrico pergunta-lhe "La vendis casti ?" (E vingaste-a ?)

"Consegui sequestrar o filho do conde. Arrastei-o até aqui, as chamas ardiam, já preparadas"

Manrico em pânico "As chamas ? Oh céus ! Por acaso tu ?"

Azucena continua a descrever a cena da visão fúnebre e a súplica de vingança de sua mãe, concluindo

" estendo a minha mão trémula
agarro na vítima
aproximo-a do fogo, empurro-a para ele.
O delírio fatal cessa
e a cena horrível desvanece-se.
Ficam apenas as chamas que ardem
e destruem a sua presa
Então viro o rosto
e vejo á minha frente
o filho do malvado conde"

Acabando a lamentar-se de por engano ter queimado o seu próprio filho

"O meu filho o meu filho
tinha queimado o meu próprio filho

terminado

"Sobre a minha cabeça ainda sinto
os cabelos a eriçarem-se"

Enquanto Manrico permanece mudo de horror e de surpresa.

De novo cantado por Fiorenza e Plácido Domingo


quinta-feira, março 08, 2007

O Trovador-Stride la vampa

O 2º acto começa num acampamento de ciganos, na Biscaia, partidários de Urgel.

Cantam despedindo-se da noite "Vedo ! Se fosche notturno", preparando-se para o trabalho. É um dos trechos mais famoso da ópera, onde o coro é misturado com o bater de bigornas e martelos, vulgarmente conhecido pelo "coro dos ciganos".

Eles dizem

"Olhai ! as escuras roupas noturnas que
cobriam a imensa abóbada do céu afastam-se,
parece uma viúva
que por fim despe
as roupas negras com as quais se cobria.
Ao trabalho vamos, martelem.

Quem embeleza os dias do cigano ?
a ciganinha"

depois só os homens

"Escutem-me um pouco
a bebida dá ânimo e coragem
ao corpo e á alma"

Completando todo o coro

"Oh Olha olha
no teu corpo brilha um raio
mais brilhante que os do Sol
Ao trabalho ! ao trabalho !

Quem embeleza os dias do cigano ?
A ciganinha"

Azuzena a filha da cigana, que o velho conde de Luna queimou no passado, está absorta frente ao fogo, enquanto os ciganos cantavam.

(de momento não encontro este video)

Azuzena começa então um estranha canzone, assim qualificada na partitura e não como ária e que por isso tem duas estrofes iguais. Trata-se de "Sride la vampa"(crepita a chama), uma das mais famosa árias para mezzo-sopranos.

Ela recorda o dia tenebroso quando sua mãe foi injustamente condenada. Numa primeira alusão ao ambiente em redor, a alegria das pessoas.

Terminando

" Crepita a chama, chega a vítima
vestida de negro, desenfaixada e descalça !
Elevam-se gritos ferozes de morte
e o eco repete-os de um barranco para outro !
Sinistras reluzem sobre os seus horrendos rostos
as tétricas chamas que se erguem até ao céu"

Aqui o papel de Azucena foi cantado por Fiorenza Cossotto em Florença em 1977, na mesma data em que a ouvi cantar este mesmo papel em Lisboa, acompanhada de Piero Cappuccili (Conde Luna), Mara Zampieri (Leonora), Vincenzo Bello (Manrico).


terça-feira, março 06, 2007

O Trovador-Tace la notte

O filme em anexo, referente ao final do 1º acto, é uma produção da RAI de 1966, cantado pelo lendário Carlo Bergonzi(Manrico), Antonietta Stella(Leonora) e Cappuccilli(Conde Luna).

O Conde Luna entra esperando talvez encontrar Leonora no jardim, cantado "Tace la notte!"(Cala-te noite), onde declara o seu amor profundo por Leonora que contudo o repudia.

"Ah a chama do amor
Todas as minhas fibras ardem
Preciso ver-te"

As suas cogitações são interrompidas pelo som de um alaúde e uma voz ao longe a de Manrico que canta uma serenata "Deserto sulla Terra"

"Deserto sobre a Terra
em guerra com o malvado destino,
só um coração é
a esperança do trovador"
"Mas se ele possuir esse coração
formoso pela sua casta fidelidade
maior que nenhum rei será
o trovador"

Leonora desce as escadas apressadamente e na escuridão confunde o Trovador com o Conde de Luna, dizendo-lhe

"É mais tarde do que o costume
contei cada instante com os batimentos
do meu coração !
Por fim um amor apiedado
guia-te para estes braços"

Manrico entra no jardim e julgando-se traído, gritando "Infida"(infiel), de imediato Leonora percebe o seu erro, pedindo desculpa "Qual voce" explicando que na escuridão nocturna, confundira a sua voz distante com o vulto que estava no jardim, jurando.

" A te che l alma mia
sol chiede, sol desia !
Io te amo,il giuro t amo
d immenso eterno amor! "

O conde não cabe em si de furioso e exige que o desconhecido se identifique. Quando este se dá a conhecer a sua ira ainda aumenta mais, pois Manrico é um partidário do inimigo Urgel e ousa entrar no jardim real.

Desafiando-se mutuamente os rivais, cantando o Conde que o fogo do ciúme arde nele e o sangue do rival não bastará para o apagar, dizendo também para Leonora

"Atreves-te oh louca
a dizer-lhe "amo-te"
pronunciaste as palavras
que o condenaram á morte

Leonora responde-lhe que só ela é a culpada e
"Que caia, que caia o teu furor
sobre a culpada que te ultrajou
crava a espada neste coração
que nem quer nem pode amar-te"

A intervenção de Manrico no trio:- declara-se invencível, pela força que o amor dela lhe confere, dizendo para o Conde
"A tua sorte está ditada
soou a tua última hora
O seu coração e a tua vida
me reservou o destino"

Os dois rivais afastam-se desembainhando as espadas, enquanto Leonora cai inconsciente.


sexta-feira, março 02, 2007

O Trovador-Tacea la notte plácida

A segunda cena do primeiro acto, começa nos jardins do palácio onde Leonora, dama de companhia da rainha Leonor, passeia com a sua confidente Inês.

Leonora está inquieta, pois há algum tempo que não ouve nem vê o trovador, um jovem que cativou o seu coração, durante umas justa em que se apresentou sem escudo de armas e vestindo uma armadura negra.

Inês, pede-lhe que volte para os aposentos da rainha pois esta exige a sua presença, mas Leonora não se conforma com mais uma noite, sem ver o seu amado, que conhecera no referido torneio(Ne tornei v apparve), onde explica o que aconteceu no torneio, a sua presença e o facto dele o ter ganho,

"Eu própria pus sobre a cabeça
do vencedor a coroa.
Logo depois começou a guerra civil
e não voltei a vê-lo
Imagem furtiva, como a de um sonho dourado
e passou o tempo, mas então ...."

O que aconteceu ?-pergunta-lhe Inês

Iniciando Leonora a sua ária "Tacea la notte plácida"

"Estava em silêncio a noite plácida
e formosa, e no céu sereno
a Lua mostrava o seu rosto de prata
alegre e cheio !
Quando soaram no ar
que até então mudo estava
os acordes de um alaúde
e uns versos melancólicos
cantou um trovador.
Versos de súplica e humildemente
tal como um homem que reza a Deus
nela repetia
um nome : o meu !
Corri rapidamente para a varanda
era ele, sim, era ele,
sento uma alegria
como apenas é permitido
aos anjos sentir !
Ao meu coração, ao meu olhar estático
a terra pareceu o céu! "

Perante a recomendação de Inês para esquecer esse trovador, Leonora responde com a sua cabaleta "Di tale amor che dirsi"

"de um amor tal, que mal se pode
explicar com palavras
de um amor que apenas eu compreendo
se embriagou o meu coração.
O meu destino só se pode cumprir
a seu lado,
se não vivo para ele
morrerei por ele ".

Esta peça é cantada por Raina Kabaivanska (Leonora) e Maria Venuti (Inês)



quinta-feira, março 01, 2007

O Trovador-Di due figli vivea padre beato

A acção passa-se no norte de Espanha, durante o século XV.Uma guerra entre o rei de Aragão e o revoltado Urgel, cujo quartel general é na Biscaia,o que põe em confronto o Conde Luna e Manrico, que comandam as operações militares.A primeira cena no pátio do palácio da Aljafería de Saragoça, apresenta-nos os homens da guarda do conde Luna, que para passar o tempo, enquanto esperam o seu senhor, pedem a Ferrando para lhe contar a sinistra história da família dos Luna.Inicia-se a ária para o baixo Ferrando "Di due figli,vivea padre beato"Ferrando conta então, como muitos anos atrás, quando o conde de Luna tinha apenas dois anos de idade, apareceu um dia ao lado do berço do seu irmão mais novo, um menino de poucos meses, uma cigana de aspecto sinistro, que não deixava de olhar para a criança."De horror ficou a ama gelada
consegue lançar um grito agudo no ar
e mais rapidamente do que demora a contar
chegam a correr os criados ao local
e entre ameaças, gritos e empurrões
conseguem por fora a malvada que ali ousou entrar""Afirmou que queria fazer o horóscopo
do petiz ...! mentirosa!
Lentamente a febre destruiu
a saúde do pobre menino
Pálido, lânguido abatido
durante as noites tremia e passava o dia
em lamentos e choros"O facto foi atribuído a um feitiço e depois de se capturar a cigana, esta foi declarada bruxa e condenada a morrer na fogueira.Algumas noites mais tarde o menino doente desapareceu, mas os homens do velho conde de Luna, não demoraram a encontrar, no mesmo lugar onde se tinha queimado a velha bruxa uma nova fogueira com o cadáver de uma criança.Este acto de maldade foi atribuído á filha da cigana, mas nunca a conseguiram apanhar, perante a dor do velho pai.(Brevi e tristi giorni visse)"viveu poucos dias e tristes
um estranho pressentimento, contudo, no seu coração,
dizia-lhe que o seu filho não tinha morrido"Próximo da morte, pediu ao actual conde que jurasse não parar a busca
Ferrando garante contudo que aos que o ouvem que ainda seria capaz de a reconhecer, apesar de já terem passado mais de vinte anos.Os soldados supersticiosos ficam inquietos, com o tom sinistro da narração dele, que acrescenta que a velha feiticeira costuma ainda aparecer naquele castelo, sob formas diversas de mocho ou de coruja e que as suas aparições ocorrem precisamente á meia-noite.Os sinos do relógio do castelo, tocam nesse momento as 12 badaladas e todos fogem apavorados amaldiçoando a cigana.

O Baixo Ivo Vinco falecido em 1963 e como já disse marido de Fiorenza Cossotto, canta esta aria na abertura  do IL TROVADORE onde afinal faz uma especie de introdução ao que vai passar-se 

https://www.youtube.com/watch?v=aJxzGPTzJ-A