Entretanto toques de corneta anunciam a chegada à aldeia de uma vistosa carroça, que é imediatamente rodeada pelos habitantes da aldeia.
Estes ficam surpreendidos, perante o luxo da carruagem e dos seus ocupantes, aparece então Dulcamara, um curandeiro charlatão acompanhado por um lacaio.
Declara a sua condição de médico enciclopédico e proclama as excelência do seu licor, capaz de curar paralíticos ou aqueles que se afogam ou sofrem do fígado, convencendo os camponeses da sua autenticidade começando a vende-lo.
Esta extensa intervenção para voz de baixo, é uma ária exigente, quer sob o ponto de visto vocal, como também teatral.
Ouvi ouvi camponeses tende cuidado e não respirai sequer Dou por evidente e imagino que tal como eu sabeis que sou aquele grande médico doutor enciclopédico chamado Dulcamara. cuja virtude ilustre e os prodígios infinitos são conhecidos no mundo inteiro... e parte do estrangeiro. Sou benfeitor de homens, reparador dos males. Em poucos dias eu esvazio e limpo os hospitais e vou vendendo saúde pelo mundo inteiro.
Continua depois incitando à compra do produto milagroso. Passando a enumerar os principais males que se podem curar.
Um septuagenário ainda se converteu em avô de dez crianças. Graças a este Bebe e Sana em menos duma semana uma viúva afligida deixou de chorar. Vós austeras matronas quereis rejuvenescer ? Vossas rugas incómodas com isto apagareis. Quereis raparigas ter a pele macia ? Vós jovens galantes ter sempre amantes ? Comprai-me o meu específico, no vo-lo dou barato. O elixir move os paralíticos, cura os apoplécticos, os asmáticos, os asfixiados, os histéricos e os diabéticos, cura os que sofrem do tímpano, escrofulosos e raquíticos e até a dor de fígado que ultimamente está na moda.
Acaba por anunciar o preço, da forma típica dos vendedores de banha da cobra.
Terminando a dizer
Para vos provar o meu agradecimento por tão amável recepção, quero, boa gente, oferecer-vos um escudo.
O coro fica agradavelmente surpreendido e aplaude
Um escudo ? Realmente homem mais simpático não se pode encontrar.
Dulcamara continua
Aqui está este estupendo e tão balsâmico elixir. Toda a Europa sabe que não o vendo por menos de nove liras, mas como é sabido que sou vosso compatriota, por três liras vo-lo deixo, peço-vos apenas três liras, assim pois, é tão claro como o Sol, que a cada um que o queira um escudo contante e sonante no seu bolso faço entrar. Ah quente afecto da pátria ! que milagres podes fazer !
Retorquindo o coro
Sim, é verdade, trazei cá. Oh, que grande doutor sois ! Teremos da vossa chegada uma prolongada recordação.
Marco Romano canta a ária de Dulcamara numa recita em Taormina em 18 Agosto 2007.
Para ver o clip referente a esta momento da ópera clicar aqui
Nemorino fica ciumento mais uma vez, pela presença do petulante sargento e talvez por esse motivo decide aproximar-se de Adina, declarando-lhe o seu amor, tentando conquista-la.
Adina começa por lhe dizer que se ocupe antes dos seus assunto, como por exemplo cuidar do seu tio moribundo, do qual poderá herdar uma fortuna.
O recitativo entre ambos é iniciado pela soprano com as palavras
Chiedi all aura lusinghiera Pergunta à brisa brincalhona porque voa sem descanso ora sobre o lírio, ou sobre a rosa, ora sobre o prado, ou sobre o arroio, dir-te-á que a sua natureza ser ligeira e infiel
Cujo tema é repetido por Nemorino
Chiedi al rio perché gemente Pergunta ao rio porque é que, gemente, desde a nascente em que brotou, se dirige para o mar que o chama, e ao mar vai morrer dir-te-á que o arrasta um poder que não sabe explicar.
A segunda parte da cabaleta tem um ritmo mais rápido. Depois dum curto diálogo, onde Adina lhe pergunta o que é que ele quer ao que Nemorino responde
Morrer como ele (o mar), mas morrer seguindo-te.
Adina secamente diz-lhe "Ama outra nada te impede".
Recomendando-lhe
Per guarir di tal pazzia Para te curar de tal loucura que é loucura o amor constante, tens de seguir a minha usança, cada dia mudar de amante. Como um prego tira outro prego, o amor afasta o amor. Desta forma eu rio o desfruto, desta forma tenho livre o coração.
dizendo Nemorino
Te sola io vedo, io sento Só te vejo a ti, eu sinto-te dia e noite, em cada objecto, em vão tento esquecer-te. Tenho o teu rosto esculpido no peito, mudando como tu fazes, podes esquecer-se qualquer outro amor, mas não se pode, nunca se poderá tirar o primeiro do coração.
O clip que encontrei, refere uma apresentação em Tóquio em 1974, cantado por Maria Callas e o seu parceiro vocal preferido Giuseppe di Stefano. Clicar aqui
A 2ª cena do 1º acto começa com a chegada do sargento Belcore (barítono), introduzido por uma marcha militar, canta a sua cavantina, onde a primeira parte parece ser própria de um homem de grande porte, mas depressa se descobre pelo texto e por uma certa rapidez no ritmo, que a personagem não é mais do que um pretensioso.
A cavantiva liga-se directamente a um trio entre Adina, Belcore e Nemorino, que revela influência de Rossini..
Quando Belcore entra, dirigindo-se a Adina, depois de a saudar oferece-lhe um ramo de flores, dizendo
Como Páris galante entregou a maçã à mais bela, mina querida camponesa, eu te entrego estas flores. Mas sou mais glorioso do que ele mais feliz do que ele eu sou dado que como prémio do meu obséquio obtenho o teu belo coração.
Presunçoso, mesmo depois de Adina ter comentado entre dentes, ironicamente para as outras mulheres um "é modesto, o rapaz", continua
Vejo bem nesse rostinho, que fiz uma brecha em teu peito, Não é coisa surpreendente; dado que sou galante e sou sargento. Não há beleza que resista à vista dum penacho, a Marte, Deus da guerra, até Cupido se rende
Perante o pânico de Nemorino, pelo sorriso de Adina ela responda à pergunta de Belcore, sobre o dia em quer o casamento, dizendo-lhe que não tem pressa, que quer pensar um pouco.
Belcore continua
Não percas mais tempo por Deus voam os dias e as horas na guerra e no amor é um erro hesitar. Rende-te ao vencedor, de mim não podes escapar.
Não eram estas as palavras ideais para a conquista de Adina, que repele a vaidade dele, afirmando que "não é assim tão fácil conquistar Adina".
Ao longe Nemorino assiste à cena lamentando a sua timidez que o impedem de "lhe explicar as minhas penas e talvez tivesse piedade".
O coro e a criada Gianneta, comentam
Seria coisa para rir se Adina se deixasse apanhar, se a todos nos vingasse este militar. Sim sim, mas é raposa velha e com ela não se pode brincar.
Belcore convencido e julgando-se já vencedor pede a Aldina, que conceda aos seus guerreiros descanso sob um tecto, ao que Aldina responde
Com boa vontade. Considerar-me-ei feliz, por vos oferecer uma garrafa.
e virando-se para os trabalhadores diz-lhes
Vós podeis recomeçar, os lavores do campo interrompidos. Já cai o Sol.
O vídeo que se pode ver clicando aqui é referente a um espectáculo no Liceu de Barcelona em 2005 com o seguinte elenco :
Quando Nemorino acaba a sua intervenção, recupera o tema do coro, que é interpretado logo de seguida por todos os elementos.
Uma ligeira troca de palavras entre Adina e a sua criada Giannetta, em que esta questiona a sua patroa, acerca da razão porque se ria da sua divertida leitura. Adina responde-lhe que é a história de Tristão, uma história de amor.
Os trabalhadores pedem-lhe então que a leia.
Dá-se então início à cavantina de Adina, em que diz o seguinte :
Pela cruel Isolda o belo Tristão ardia, nem um pouco de esperança tinha de possuí-la um dia. Quando se pôs aos pés de um sábio mago, que lhe deu um frasco com um certo elixir de amor, pelo que a bela Isolda dele não conseguiu jamais fugir.
O coro responde que um elixir de tão perfeita e rara qualidade, oxála se soubesse a receita.
Adina continua a história
Mal ele bebeu um sorvo do mágico frasco o coração rebelde de Isolda enterneceu-se. Mudada num instante, aquela beleza cruel, foi amante de Tristão e aquele primeiro sorvo, para sempre abençoou.
Acabando o coro por repetir o que havia dito anteriormente.
Segue-se a primeira intervenção de Nemorino, a sua cavantina onde se descobre o carácter desta personagem, é uma passagem de grande beleza onde a sua inquietação amorosa é evidenciada.
Nemorino está à beira do desespero, pois o casamento de Adina com o sargento Belcore, está anunciado e mais do que isso, foi antecipado para a tarde daquele mesmo dia.
Nemorino canta
Como é bela e adorável Quanto mais a vejo, mais gosto dela, Mas a essa coração não sou capaz de inspirar o menor afecto Ela lê, estuda, aprende Para ela não há coisa desconhecida Eu sou um idiota que não sabe mais do que suspirar Quem me iluminará a mente ? Quem me ensinará a fazer-me amar ?
Fica a nota desta cavantina cantada por Nicolai Gedda clicando aqui.
Gedda é um tenor sueco nascido em 1925, que suponho hoje já completamente retirado. Considerado por alguns o mais versátil do século 20, como atestam as suas mais de 200 gravações em papéis muito diferentes.
Ou, preferindo a versão cantada por Rolando Villazon, clicar aqui
Tenor mexicano nascido em 1972, radicado em França, considerado um dos melhores tenores líricos da atualidade.
O Elixir do Amor uma ópera de Donizetti em dois actos foi estreada em Milão em 1832, com libreto de Felice Romani.
Esta ópera foi classificada inicialmente, como ópera buffa, só porque contém alguns elementos de comédia, não habituais nas óperas "sérias" do bel-canto.
A começar pela papel do protagonista Nemorimo, um tanto parvo, simplório e ignorante.
Contudo alguns elementos característicos da ópera buffa, não estão caracterizados nesta ópera.
Nemorino não tem criado para casar com a criada confidente da protagonista.
Adina a protagonista casadoira, não têm pai. Ela própria é independente , rica perfeitamente apta a resolver os seus problemas quer financeiros quer matrimoniais.
O militar fanfarrão típico da opera buffa, está aqui representado pelo sargento Belcore, rival de Nemorimo, com um papel mais importante do que naquele tipo de óperas.
O próprio ambiente rural em que se desenrola esta ópera afasta-a do cénico urbanismo buffo.
Enfim, alguns detalhes que culminam na diferença inevitável na opera buffa dos casamentos múltiplos, contudo problema esse já simplificado desde Rossini.
A esta ópera está associada á morte de Caruso, que adorava cantar esta ópera tanto assim que em Dezembro de 1920, cantava em Nova Iorque no Metropolitan a representação número 604, no papel de Nemorino, quando subitamente em pleno palco teve um ataque de tosse que lhe provocou uma hemorragia.
Foi o primeiro sinal do seu fim, que viria a acontecer em Nápoles, poucos meses mais tarde, cantando o papel que mais gostava, numa ópera que contribuiu para que ainda hoje se mantenha interessante.
A acção passa-se numa pequena aldeia no País Basco. Adina é dona de tudo quanto se vê em cena, e os segadores, são seus empregados, que descansam sob uma grande árvore, refugiando-se dos ardores do sol.
Boa fazendeira, á moda antiga, (muito antiga digo eu) não se preocupa com a produtividade dos seus empregados, ocupando-se da leitura de um romance.
A ópera começa com breves compassos de tom cómico, que são seguidos por um tema mais dramático em que os instrumentos de corda acompanham a flauta.
O tema do coro acompanhado pela criada Giannetta, serve de introdução ao primeiro acto, cantando
Doce consolo para o segador Quando o sol está mais ardente é sob uma faia ao pé duma colina repousar e respirar O vivo ardor do meio-dia ameniza a sombra e o rio mas o amor ardente nem rio nem sombra podem acalmar. Afortunado o segador que dele se pode guardar